sábado, 29 de dezembro de 2012

Rápido demais


Foi a brisa ou foi o tic tac 
Que levou o que eu fui?
Riso solto, areia
Vermelho, o Sol
Foi-se mais uma vez 
não vi o adeus 
Volte
Sonhos, pegadas
Azul, o mar
me fez lembrar que ontem eu corri
e cheguei rápido demais
no hoje

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

tempinho


Hoje o tempo bate, maltrata, enforca, esfaqueia, debocha, ignora
faz que tanto fez
Feliz é aquele que riu dele alguma vez.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O filho do século - Murilo Mendes

Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos cacheados
Adeus valsa "Danúbio Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem
Não tenho forças para gritar um grande grito
Cairei no chão do século vinte
Aguardem-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora da fuzilamento, da raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos vôos destruidores
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos, 
Misérias de todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Amor e um café

         Você chega sempre com os braços ao meu redor, com esse seu jeito de calma de fim de tarde, de brisa que leva embora a impaciência da cidade. Abraça-me, sorri e ilumina a sala, o quarto, o meu olhar. Diz que sentia minha falta, mas eu só escuto o canto da cotovia a anunciar que a temporada das chuvas já passou, que minha vida agora é verão.
         Hoje meu dia está assim, leve. Sim, leve, acredite. Não percebeu?
         Meus pensamentos até voaram em sua direção. Coitados, estavam exaustos da redundância de minha mente que insiste em pintar quadros de nós dois e esse amor de piquenique, de MPB, de praia ao anoitecer.
         Ah, meu bem! Que sorte a minha de no meio da vida encontrar um sonho.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Libertate


Cinza, rotina, pertubação
Não irei mais sentir
Cor... é cor que eu quero na composição
Das horas soltas dos dias que deixei ir
As palavras nos muros não oprimem mais
Agora vou pintar
Uma flor em cada insulto a mais
Que o lado de fora falar
Vou voar com o vento
Vestir os minutos
Vou dançar e aproveitar um momento
Com os pés descalços insulto
Essa cerca que prende suas ideias
Que não te deixa voar comigo
Esqueça isso de sorrir com a plateia
E vamos atuar nas nossas vidas, meu amigo!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Adeus, meus sonhos! - Álvares de Azevedo



Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro! 
Não levo da existência uma saudade! 
E tanta vida que meu peito enchia 
Morreu na minha triste mocidade! 
Misérrimo! Votei meus pobres dias 
À sina doida de um amor sem fruto, 
E minh'alma na treva agora dorme 
Como um olhar que a morte envolve em luto. 
Que me resta, meu Deus? 
Morra comigo 
A estrela de meus cândidos amores, 
Já não vejo no meu peito morto 
Um punhado sequer de murchas flores!

domingo, 28 de outubro de 2012

À Vida - Marina Tsvetáieva


Não roubarás minha cor
Vermelha, de rio que estua.
Sou recusa: és caçador.
Persegues: eu sou a fuga.
Não dou minha alma cativa!
Colhido em pleno disparo,
Curva o pescoço o cavalo
Árabe -
E abre a veia da vida.

1924
Tradução de Haroldo de Campos

O Choro do Anjo


Alguns diziam que era louca
Outros que podia voar
Que seu mundo não era aqui
Mas aqui quis ficar

Andava pela praia
Com a areia a conversar
No horizonte se perdia
E as tristezas? Jogava no mar

Chorava o choro dos anjos
Pobre de quem podia escutar
Doía o coração ver
Um anjo tão lindo chorar

Sentia falta do calor
Costumava vestir-se da luz do sol
Agora o luar, por mais bonito que fosse
Feria os olhos com seu branco brilhar

Oh, Luar! Sois tão lindo quanto o Sol
Por que não posso eu te amar?

Nunca derramara uma lágrima sequer
Sem que fosse banhada pelo luar

Andava pela praia
A areia cansou de escutar
O horizonte, agora negro, a embriagou
Oh, Tristeza! Atirou-se ao mar

Chorava o choro dos anjos
Pobre de quem podia escutar
Doía o coração ver
Um lindo anjo chorar