segunda-feira, 19 de novembro de 2012

tempinho


Hoje o tempo bate, maltrata, enforca, esfaqueia, debocha, ignora
faz que tanto fez
Feliz é aquele que riu dele alguma vez.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O filho do século - Murilo Mendes

Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos cacheados
Adeus valsa "Danúbio Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem
Não tenho forças para gritar um grande grito
Cairei no chão do século vinte
Aguardem-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora da fuzilamento, da raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos vôos destruidores
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos, 
Misérias de todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Amor e um café

         Você chega sempre com os braços ao meu redor, com esse seu jeito de calma de fim de tarde, de brisa que leva embora a impaciência da cidade. Abraça-me, sorri e ilumina a sala, o quarto, o meu olhar. Diz que sentia minha falta, mas eu só escuto o canto da cotovia a anunciar que a temporada das chuvas já passou, que minha vida agora é verão.
         Hoje meu dia está assim, leve. Sim, leve, acredite. Não percebeu?
         Meus pensamentos até voaram em sua direção. Coitados, estavam exaustos da redundância de minha mente que insiste em pintar quadros de nós dois e esse amor de piquenique, de MPB, de praia ao anoitecer.
         Ah, meu bem! Que sorte a minha de no meio da vida encontrar um sonho.